01 fevereiro 2007

Todas as noites do mundo

ESPERA

Deito-me tarde

Espero por uma espécie de silêncio

Que nunca chega cedo

Espero a atenção a concentração da hora tardia

Ardente e nua

É então que os espelhos acendem o seu segundo brilho

É então que se vê o desenho do vazio

É então que se vê subitamente

A nossa própria mão pousada sobre a mesa

É então que se vê o passar do silêncio

Navegação antiquíssima e solene

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Geografia 1976

Por isso às vezes o diálogo se torna lento, as palavras difíceis e as ideias condensadas, esta não é a hora de grandes escritos, é a hora da poesia.

3 Comments:

At 7/2/07 22:59, Blogger isi said...

a hora do silêncio,
talvez este tempo de reencontro com o nosso interior seja "apenas" a nossa hora mais...

mais séria
mais livre
mais calma
mais lúcida

ou talvez não!

 
At 7/2/07 23:52, Anonymous Anónimo said...

Sabes, o que gosto mesmo neste poema, para além da descrição tão fiel da hora da escrita, reflexão , da hora mais, é do título.
POrque é uma espera, a espera de um momento tão apetecido como o de outro encontro. Neste caso o encontro com o silêncio, e a poesia. E esperar é fazer o momento ainda que por vezes cantem o contrário...

 
At 8/2/07 12:02, Blogger isi said...

sem dúvida,
a espera...
não a espera paralisada
não a espera interminável,
não a espera ansiosa,

a espera da certeza
do momento que vai chegar
para ser apreciado
em silêncio.

 

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