Todas as noites do mundo

ESPERA
Deito-me tarde
Espero por uma espécie de silêncio
Que nunca chega cedo
Espero a atenção a concentração da hora tardia
Ardente e nua
É então que os espelhos acendem o seu segundo brilho
É então que se vê o desenho do vazio
É então que se vê subitamente
A nossa própria mão pousada sobre a mesa
É então que se vê o passar do silêncio
Navegação antiquíssima e solene
Sophia de Mello Breyner Andresen, in Geografia 1976
3 Comments:
a hora do silêncio,
talvez este tempo de reencontro com o nosso interior seja "apenas" a nossa hora mais...
mais séria
mais livre
mais calma
mais lúcida
ou talvez não!
Sabes, o que gosto mesmo neste poema, para além da descrição tão fiel da hora da escrita, reflexão , da hora mais, é do título.
POrque é uma espera, a espera de um momento tão apetecido como o de outro encontro. Neste caso o encontro com o silêncio, e a poesia. E esperar é fazer o momento ainda que por vezes cantem o contrário...
sem dúvida,
a espera...
não a espera paralisada
não a espera interminável,
não a espera ansiosa,
a espera da certeza
do momento que vai chegar
para ser apreciado
em silêncio.
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