28 julho 2007

Férias

Não estou com os mais velhos desde a semana passada O programa de férias com os avós assim determinou. E hoje, festa em casa da sobrinha, estarei ausente em trabalho. Hoje, quando regressar a casa Já noite, Vou ao quarto onde teimam em dormir todos juntos Ver-lhes no rosto A saudade que tenho de os abraçar E soprar-lhes um beijo… Antecipo o acordar.

25 julho 2007

A Morte melancólica do Rapaz Ostra e outras Estórias

Há textos inacreditáveis

Estes são assim:

“ O Rapaz com pregos nos olhos

montou a sua árvore de metal

Parecia muito estranha

Porque ele realmente via mal”

Acompanha o texto uma imagem elucidativa

Do próprio Tim Burton, o autor

(Sim, o de Eduardo mãos de tesoura)

Eis a imagem

20 julho 2007

Jantar a dois

Os dois mais velhos estão de férias com os avós

A miúda mais pequena já dorme

E tenho o jantar por fazer.

O marido não vem hoje, tem reunião no serviço.

Os camarões estavam programados para hoje, e porque não?

Camarões fritos:

Derrete-se manteiga numa frigideira grande, e atiram-se para lá os camarões, descongelados. Tempera-se com sal e pimenta, faz de conta que os camarões estão no mar e que a pimenta é areia. Junta-se uma malagueta (das caseiras, por exemplo de uma das plantinhas que a Tinó trouxe para dar fruto o ano passado).

Deixam-se alourar os camarões, e mais um bocadinho de fritura para saberem bem, e viram-se, e mais outro tanto de espera porque esperar também parte do segredo.

E quando eles começam a parecer querer estalar na frigideira, regam-se com cerveja, um bom bocado, e deixa-se borbulhar a mistura durante outro tanto de tempo generoso.

Lembrem-se que temos a vida suspensa nesta espera.

O cheiro invade a casa.

Sento-me à mesa, prato grande, cerveja preta, um pão.

Como companhia “apenas” Jaques Brel, tudo o que quiserem imaginar dele, com a minha voz feminina uma oitava acima.

18 julho 2007

As Rosas de Atacama

Luis Sepúlveda

Um pequeno livro cheio de histórias. E de memórias.

“ Muito perto do cemitério estendemos os sacos-cama, e pusemo-nos a fumar e à escuta do silêncio: o murmúrio telúrico de milhões de pedras que, aquecidas pelo sol, estalam infinitamente com a violenta mudança de temperatura. Lembro-me que adormeci cansado de observar os milhares e milhares de estrelas que iluminam a noite do deserto e, ao amanhecer a 31 de Março, o meu amigo sacudiu-me para me acordar.

Os sacos de cama estavam empapados. Perguntei se tinha chovido e Fredy respondeu que sim, que tinha chovido miúda e subtilmente, como em quase todos os dias 31 de Março em Atacama. Quando me pus de pé, vi que o deserto estava vermelho, intensamente vermelho, coberto de pequenas flores cor de sangue.

- Ali as tens. As rosas do deserto, as rosas de Atacama.”

Deixem-me reler-vos:” Lembro-me que adormeci cansado de observar os milhares e milhares de estrelas que iluminam a noite do deserto…”,

porque nunca vi essas estrelas do deserto, mas me lembro de adormecer cansada de ver estrelas e mais estrelas, em noites de Talasnal, nas pedras quentes da eira.

11 julho 2007

Promessa de Mãe

Tinha-lhes prometido uma ida à Praia.

O Luís sempre que está mais calor pergunta: - Mãe, hoje vamos à praia?

E por isso tinha-lhes dito que se conseguisse trocar o turno, hoje iríamos à praia.

Estava combinado desde a semana passada, quando o calor começou a fazer-nos lembrar que é verão.

E eu tinha conseguido trocar o turno. De manhã andei pondo coisas na ordem. Desde o selo do carro à confirmação e pagamento do campo deste ano. Cheguei tarde para almoçar e acabei às três. Arrumei sacos de toalhas, fatos de banho, roupa mais quente (nas notícias, apesar do calor, davam vento moderado a forte na orla costeira a norte do cabo carvoeiro), tenda tapa vento do Lidl, por estrear, e ainda um termos com jantar (sopa no andar de baixo e frango com arroz no andar de cima), umas bolachas, maças e água.

Saí já em passo de corrida, apanhei o primeiro em casa de um amigo onde tinha ficado a dormir, a segunda na escola, queixando-se de escaldão no pescoço apesar de uma aplicação matinal de creme seguida de mais três durante a manhã de actividades desportivas ao ar livre (até ao meio dia e meio). Reconsidero ida à praia, mas tanto uma como outro são explícitos. Vamos!. Falta ainda a terceira, vamos buscá-la e passamos pela farmácia, quero mudar para um creme ecrã total e lá me explicam que a designação já não existe. Têm creme 50 +, muito bom, a melhor protecção. Pois, foi com um 50 + que ela apanhou o escaldão...

Acabo por trazer um 50 + que deve ser plus, pois tem ecrã mineral (seja lá o que isso for) e protege mais do que o 50 + sem ecrã.

Tinha planeado ir à Costa Nova, mas a hora tardia a que saímos acaba por decidir viragem de rumo até ao Cabedelo com alguma esperança de protecção do vento junto ao paredão.

Chegamos pelas seis, tiro os três do carro e encarrego os dois mais crescidos de levar cada um uma coisa, os sacos restantes carrego como posso entre uma mochila aos ombros e várias penduradas no braço que está livre da Isabel.

Começo a rir baixinho, só para mim, a imaginar a figura.

Depois de uma tentativa, completamente maluca, de abordagem do areal pelas rochas, lá vamos pelo carreiro até uns metros mais à frente onde acabamos por poisar todos com os pés na areia.

Soltam-se o miúdos no vento que corre. A Isabel anda de um lado para o outro tão espantada que ainda nem largou as sandálias que trazia na mão. A Ana e o Luís já correm para o mar. Recomendo cuidado e decido montar o tapa vento, que deve ser fácil.

Quinze minutos depois desisto, entre montar sozinha uma coisa que deve ser montada por duas pessoas (Ana não conseguiu ajudar muito), com o vento a tentar arrancá-la das minhas mãos porque as espias na areia é mentira, ou deixar-me estar a apanhar a aragem na cara, prefiro a segunda. Arrumo a coisa com alguma dificuldade até porque começo a rir alto, sem dar conta, e nestas coisa de arrumar o riso não ajuda muito.

Está menos vento junto às rochas para onde mudamos as traquitanas todas, depois corremos junto ao mar, fazemos poças na areia com as pás e fazemos desenhos. Corremos a salpicar-nos de água e vento e ficamos a tremer de frio como se não fosse verão.

Saímos da praia uma hora depois, três crianças correm no estrado apesar de carregadas, e dos cabelos pelo ar. No carro jantamos um pic-nic dividido por três bocas esfomeadas , rematamos com maçãs e bónus de gelado no cafezinho junto ao estacionamento.

Não fosse a promessa e nada me faria vir ao mar, hoje.

09 julho 2007

A Chuva Pasmada

De Mia Couto tenho vindo a ler tudo, mais ou menos.

No início prendia-me em palavras desconhecidas, como nas “Estórias Abensonhadas”, noutras vezes a história prendeu-me mais do que as palavras, como em”A varanda do Frangipani”, ou no misto da história com imagens, em “Mar Me Quer”.

Nesta história, entre o descer da chuva e o seu cair na terra, há o espaço da vida, dos segredos, das lendas, dos erros e da morte. Uma história grande e suspensa, do início ao fim. Para ler e reler entre as tardes sem pressa e o anoitecer.

02 julho 2007

Sophia

Faz hoje três anos faleceu
vale a pena ir re(lembrando) as suas histórias e poemas. Aqui, por exemplo.
O POEMA
O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Como rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo
in Livro sexto, Sophia de Mello Breyner Andresen