Voar e outras coisas leves com os pés em algo insólido

Porque há histórias nos livros, porque os livros têm história e porque há histórias que fogem das histórias dos livros, e são outra história...
Ás quartas chegamos cedo.
Por vezes desenrolamos a massa, três círculos à espera de ideias.
Dedos sujos e caras alegres, recheamos com mil coisas e cores os círculos desenrolados, que de seguida aconchegamos no forno já quente.
O fim da tarde ameno, a varanda aberta sobre o sol ainda amarelo. É lá que a mesa se põe, saladas coloridas a enfeitar os cantos que sobram da pizza.
Jantamos entre o entardecer e os risos dos primos, na casa ao lado.
A sobremesa é no quintal, onde apanhamos mil morangos pequeninos cultivados quase vinha, em encosta pequena e soalheira. Pouca água, e tanta abundância de vermelho silvestre desfazendo-se na boca e nas mãos dos mais novitos.
Depois entre baloiços e risos aguardamos o fim do dia, o sol cor de laranja a mudar-nos as feições. É simples
Anoitece devagar enquanto subimos até casa.
ONDJAKI, na editora Caminho
Este livro chegou-me por mão amiga (anagrama de magia)
Como tal saltou sobre a pilha dos "outros" e foi lido em primeiro lugar. Não tem fotografia porque a máquina não está. Mas tem outras coisas…
No fim dele, Ana Paula escreve: "o teu livro dá conta de como crescem em segredo as crianças."
No Livro, ONDJAKI escreve:
Eu já tinha dito ao Bruno, ao Tibas e ao Jika, cambas da minha rua, que aquele meu tio era muito forte nas estórias. Mas o principal, embora ninguém tivesse visto só um a foto de admirar, era a piscina que ele disse que havia em Benguela, na casa dele:
“- Vocês de Luanda não aguentam, andam aqui a beber sumo tang!
Ele ria a gargalhada dele, nós ríamos com ele, como se estivessem mil cócegas espalhadas no ar quente da noite.
- Nós lá temos uma piscina enorme – fazia uma pausa dos filmes, nós de boca aberta a imaginar a tal piscina. – Ainda por cima, não é água que pomos lá – eu a olhar para o Tibas, depois o Jika:
- Não vos disse?
O tio Victor continuou assim numa fala fantasmagórica:
- Vocês aqui da equipa do tang não aguentam…, a nossa piscina lá é toda cheia de coca-cola!
Aí foi o nosso espanto geral: dos olhos dos outros, eu vi, saía um brilho tipo fósforo quase a acender a escuridão da varanda e a assustar os mosquitos. Nós, as crianças, de boca aberta numa viagem de língua salivada, começámos a rir de espanto e gargalhámos, o tio Victor também, depois rebentámos numa salva de palmas que até a minha mãe veio ver o que se estava a passar
De entre tanto que gosto da sua poesia
Há um poema que é uma história
E que tem uma canção sempre bailando nas suas linhas,
Senão, escutem:
“Era uma vez um país
na ponta do fim do mundo
onde o mar não tinha eco
onde o céu não tinha fundo.
Onde longe longe longe
Mais longe que a ventania
Mais longe que a flor da sombra
Ou a flor da maresia
Em sete lagos de pedra
Sete castelos de nuvens
Em sete cristais de gelo
Uma princesa vivia.
…
A canção estende-se da página 115 à 141, de um lado e do outro ( na minha edição)
O que eu gostaria era de a saber cantar de cor…